sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ecologia de Rebanho

O texto “Ecologia de Rebanho” é fruto de duas experiências com turmas de 4º e 5º ano de escolas públicas de periferia, uma realizada em Santa Maria em 1997 dentro da disciplina de Prática de Ensino de Química e a outra em São José como atividade de extensão do Projeto “É lixo que não acaba mais” do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no ano de 2004. Apresentaremos aqui uma experiência de um professor estagiário de Química, pois este professor desenvolveu um trabalho muito interessante que merece ser divulgado!

Com o objetivo de trazer o conhecimento químico, assunto tão complicado, para perto dos alunos o professor fez o seguinte trabalho em sala de aula:
Primeiro passo:
Espalhou o conteúdo da lixeira e pediu para que os alunos observassem o lixo. Em seguida propôs um exercício de pensar sobre como aqueles materiais foram parar ali, conforme apresentado abaixo.

Professor:
- Como cada um obteve cada um daqueles produtos?
Alunos:
- Cantina da escola, papelaria da cidade, sala dos professores...

Professor
: - Como as coisas foram parar na cantina, na papelaria, etc?
Alunos
: - Através dos supermercados, lojas, fábricas.

Todos concordaram que vinham da fábrica.

Professor: - E antes da fábrica, de onde saem as coisas para fazer, por exemplo, um lápis? O lápis é feito de quê?
Alunos
: - Da madeira.

Professor
: - E as madeiras vêm da onde?
Alunos: - Da árvore.
Professor: - E a árvore?
Alunos: - Da floresta.
Professor: - De que mais é feito o lápis? Só madeira?
Alunos
: - É de grafite.
Professor: - E o que é o grafite? O lápis é feito de madeira, de grafite e só? Que materiais uma fábrica de lápis precisa ter para fabricar um lápis como esse?

Breve explanação sobre as matérias-primas necessárias à produção de lápis, tentando dar uma noção de cadeia e de interdependência entre os diferentes segmentos.

Professor: - E as outras coisas? De que são feitas? Houveram várias respostas.

Depois o professor coloca todo o lixo de volta na lixeira e deixa apenas uma folha de papel amassado. E pergunta de onde veio o papel e como ele veio parar aqui. O estagiário inicia uma breve explanação sobre a transformação da madeira em pasta de celulose.

O professor pede então para que os alunos façam um desenho mostrando o que vai acontecer com aquele papel que está na lixeira. A maioria dos alunos desenhou que o lixo ia para uma Usina de reciclagem. Na aula seguinte o professor levou os alunos no depósito de lixo da cidade.

No texto os autores falam que se dermos uma olhada nas cartilhas destinadas ao trabalho de Educação Ambiental veremos que o conteúdo destas ensina que a reciclagem do lixo é a única via para o tratamento adequado dos resíduos sólidos urbanos. Por que isso acontece? Por que a maioria das crianças pensava que o lixo iria para a Usina de Reciclagem?

Fonte: PREVE, Ana Maria; CORRÊA, Guilherme. Ecologia de Rebanho. In: Ambientes da ecologia: perspectivas em política e educação. Santa Maria: Ed. UFSM, 2007. p. 205-220.

domingo, 18 de setembro de 2011

Lixo e reciclagem

A natureza não tem “lixo”. Ela não joga nada fora. Tudo está sempre mudando e sendo reaproveitado, formando o equilíbrio dos ciclos.

Uma planta se alimenta de luz do sol, de água e de sais minerais que retira do solo. Quando perde suas folhas, ou quando morre, o calor e a umidade fazem com que a planta se decomponha, formando o húmus que enriquece o solo, onde nascem outras plantas. O homem também faz parte deste ciclo: ele precisa do ar, da água e quando se alimenta está aproveitando os sais minerais, a água e a própria energia solar que estão nas plantas ou nos bichos. Tudo faz parte da natureza e está interligado formando ciclos diferentes. Assim, é preciso cuidado para não quebrar esses ciclos.

De uns tempos pra cá, os homens vêm inventando novas tecnologias, aumentando sua capacidade de transformar a natureza. A capacidade humana de inventar coisas novas traz benefícios, mas, também, causa problemas. Um dos problemas mais sérios é o do esgotamento dos recursos naturais: acreditava-se que a natureza era uma fonte ilimitada, inesgotável de recursos, porém sabemos que não é. Outro grande problema é o do destino do lixo. Tudo que consumimos foi produzido em algum lugar e depois deveria voltar para os ciclos da natureza, mas a gente inventa certas coisas que a natureza tem dificuldade para reciclar.

O lixo que produzimos, na maioria das vezes, é composto por plásticos, papéis, latas e restos de comida. Plástico, lata e papel são materiais muito complexos, formados pela mistura de muitas substâncias. Para separá-las novamente é preciso processos químicos de separação. No caso do plástico, por exemplo, é isso o que acontece. Através desse processo, obtém-se as substâncias que o formam, podendo-se, a partir daí, produzir outros tipos de plásticos que serão utilizados, outra vez, em embalagens, garrafas, etc.

Outras vezes, por um simples processo físico, podemos reaproveitar papéis velhos, por exemplo. Nesse caso, o objetivo não é fazer a separação das várias substâncias que formam o papel, mas fazer de um papel velho um papel novo. Para isso, basta amassar, rasgar, triturar e molhar (mergulhar o papel na água) o papel velho e, depois desses processos, colocá-lo para secar e pronto: temos um papel “novinho” para ser usado outra vez. As latas também sofrem um processo físico de reciclagem. Elas são prensadas e amassadas e, assim, transformadas em chapas de alumínio, que serão utilizadas para fabricar outras latas.

No caso dos restos de comidas, elas são decompostas pelas milhares de bactérias e fungos existentes no ambiente. Eles são os responsáveis pelos processos de decomposição de qualquer matéria orgânica. Quando vemos um tronco velho ou uma fruta que caiu da árvore “apodrecendo”, estamos assistindo, na realidade, ao processo de decomposição.

Assim, os processos de reciclagem são muito variados, mas todos têm o mesmo objetivo: reutilizar os materiais. No entanto, mais importante do que reciclar, é não produzir lixo, pois, como sabemos, os recursos utilizados na fabricação dos mesmos não são inesgotáveis.

Fonte: TEIXEIRA, Eduardo Cardoso. Problematizando a educação ambiental. In: SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos (org). Biologia dentro e fora da escola. Porto Alegre: Mediação, 2000. p. 71-89.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Encontros de Planejamento com os professores da EEB. Porto do Rio Tavares

Durante o mês de março deste ano realizamos reuniões individuais com os professores da EEB. Porto do Rio Tavares para auxiliá-los na integração das questões ambientais ao conteúdo programático de sua disciplina. O nosso objetivo era estar por dentro do plano de ensino do educador para desta forma poder sugerir ou indicar materiais que pudessem colaborar para sua prática, conversar sobre as possibilidades de saídas de campo e ouvir dos professores como eles pretendiam inserir no seu plano as questões ambientais, sobretudo da Ilha de Santa Catarina.

Percebemos em relação às séries iniciais grandes possibilidades de costurar as práticas educativas de cada professor para que o processo tivesse uma continuidade e fosse trabalhado de diferentes formas. A professora de Educação Física, por exemplo, nos bombardeou com várias idéias pra lá de interessantes que complementariam e dariam continuidade às atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Artística e da professora de sala. Como oficina de teatro, trilha imaginária na quadra da escola, jogo da memória, entre outros. Desta forma, quando a professora de sala estivesse trabalhando com o ecossistema de manguezal a professora de Educação Física poderia fazer uma trilha imaginária com elementos deste ecossistema.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Cinismo da reciclagem

A questão do lixo é um dos maiores problemas ambientais das grandes cidades brasileiras. Por isso, vem sendo utilizado como temática de vários programas de educação ambiental em escolas. Este problema gerou a formulação da chamada Política ou Pedagogia dos 3R's, “reduzir”,” reutilizar” e “reciclar”.

No entanto, esses programas de educação ambiental nas escolas, se reduzem a implantação de lixeiras para a coleta seletiva do lixo, e não fazem uma real reflexão a respeito dos valores culturais da sociedade de consumo e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo *.

Segundo o texto esta discussão sobre a Coleta Seletiva de lixo, entrou em cena devido a saturação dos depósitos de lixo que preocupa os municípios e também por causa de uma preocupação em relação ao esgotamento dos recursos naturais, tema ressaltado no Clube de Roma.

Para o discurso ecológico alternativo, ou seja, o da ideologia contra-hegemônica, a questão do lixo é um problema de ordem cultural, derivado do consumismo exagerado, que sempre foi tido como sinônimo de bem-estar, mas atualmente é responsável por uma série de problemas ambientais.

O problema disso tudo, é que este é um caso muito complexo. Por mais que queiramos diminuir o consumismo o sistema vive nos impondo. Afinal, a vida útil dos produtos torna-se cada vez mais curta, pois o capitalismo cria essas demandas artificiais. Além disso, “mesmo que um determinado produto ainda esteja dentro do prazo de sua vida útil, do ponto de vista funcional, simbolicamente já está ultrapassado. A moda e a propaganda provocam um verdadeiro desvio da função primária dos produtos” *. “Dobrar a vida útil de um produto significa diminuir pela metade o consumo de energia, o lixo e a poluição gerada" * . Mas não é esta a prioridade do sistema.

“No que diz respeito à Pedagogia dos 3R's, o discurso ecológico alternativo advoga uma seqüência lógica a ser seguida: a redução do consumo deve ser priorizada sobre a reutilização e reciclagem; e depois da redução do consumo, a reutilização deve ser priorizada sobre a reciclagem” *. Ao contrário, o discurso ideológico oficial confere máxima importância à reciclagem em detrimento da redução do consumo e do reaproveitamento. Pois, para eles, a questão do lixo é um problema de ordem técnica, não cultural. O problema é o consumo insustentável, não o consumismo. Propõem como solução o consumo sustentável, que seria propiciado pela aliança da reciclagem com as tecnologias limpas e eficientes. Não critica o consumismo, pois a redução deste, seria muito perigoso para o sistema econômico dominante. Não comenta a redução do consumo, mas para não ficar uma lacuna, salienta a redução do desperdício.

Dessa forma, “a Pedagogia dos 3R's preconizada pelo discurso ecológico oficial torna-se uma prática comportamentalista, ao invés de reflexiva, pois reduz a Pedagogia dos 3R's à Pedagogia da Reciclagem” * . Este é o Cinismo da Reciclagem. Ela provoca “um efeito ilusório, tranqüilizante na consciência dos indivíduos, que podem passar a consumir mais produtos, sobretudo descartáveis, sem constrangimento algum, pois agora são recicláveis e, portanto, ecológicos” *.

* LAYRARGUES, 2002.
* Ibidem, p.4.
* Ibidem, p.5.
* Ibidem, p. 4.
* Ibidem, p. 5.
* Ibidem, p. 6.


Resumo do texto "O cinismo da reciclagem" discutido no grupo de estudos do Programa "Educação Ambiental na escola: escossistemas da Ilha de Santa Catarina.

Referências
LAYARGUES, Philippe. O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental. LOUREIRO, F.; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002, 179-220. Disponível em:
www.semebrusque.com.br/bibliovirtual/material/ea/ea_pdf0005.pdf

quarta-feira, 1 de junho de 2011


Primeira Oficina de Planejamento

No dia 04 de fevereiro de 2011 realizamos na Escola Estadual Básica Porto do Rio Tavares nossa primeira atividade na escola do ano. Foi uma oficina de planejamento, que, como o nome já diz, planejaríamos as atividades que os professores desenvolveriam ao longo do ano a partir deste ponto inicial. Esta oficina contou com 13 participantes, divididos entre professores, coordenação pedagógica e grupo gestor da escola.

A oficina foi baseada na metodologia DRP (Diagnóstico Rápido Participativo). Desta forma, o encontro foi realizado da seguinte forma: a partir de quatro palavras-chave (meio ambiente, prática pedagógica, Rio Tavares e Escola Porto do Rio Tavares), os participantes teriam de pensar no que “mais gosta” e o que “incomoda”, dentro deste contexto (conjunto de palavras-chave). A ideia central era que os educadores refletissem nas potencialidades e nos desafios de trabalhar o tema “meio ambiente”.

Para começarmos a manhã fizemos a dinâmica da teia da vida, onde foram trabalhados os elos que nos unem, a importância de cada um naquela teia, noções de ecossistema, interdependência e relações ecológicas.

Em seguida, demos início à atividade de planejamento. A primeira etapa foi individual, cada um colocando no papel os elementos que gostavam e os que incomodavam. Posteriormente, os grupos foram divididos em séries iniciais; séries finais e coordenação pedagógica, direção e projetos.

Cada um levou os seus elementos para o grupo, onde estes fizeram uma discussão do que realmente tinha importância para o grande grupo e com quais elementos seriam eleitos. Após definir os elementos, o desafio foi espacializá-los, colocá-los em um mapa. Nesta etapa surgiram algumas dúvidas, principalmente em relação à espacialização de elementos que não são táteis, como comportamentos e atitudes. Finalizando esta parte de espacialização, a tarefa foi cada grupo apresentar aos demais o seu mapa.

O grupo das séries finais colocou como potencialidades para trabalhar, a riqueza vegetal existente no bairro, principalmente, o manguezal. Porém, contrapondo esta riqueza, eles colocaram a má utilização dos recursos naturais, no caso enfocado pelo grupo, a questão do esgoto doméstico lançado ao rio e ao manguezal. Trouxeram outros pontos também, como o problema do trânsito no Rio Tavares, a falta de acessibilidade e mobilidade. Assim como problemas de infraestrutura da escola como um todo, exemplificando com a biblioteca. Este grupo tratou também de questões problemáticas da comunidade escolar, colocando estes problemas como estruturais da comunidade. Sendo que dentro deste contexto, está a falta de interesse pelas questões ambientais.

A equipe da coordenação pedagógica tratou fundamentalmente de questões referentes ao comprometimento com a educação. Colocou como o que “gosta” o saber, o conhecer, a experiência. E o que “incomoda”, as relações, a falta de respeito dentro da escola e o desinteresse geral (comunidade, professores e alunos). Questões como, por exemplo: Como os alunos irão sair da escola? Melhores? Piores? De quem depende isso?

O último grupo a apresentar foi o das séries iniciais. Este grupo desenhou como representação no mapa duas nuvens, uma cinza e outra branca, representando o que incomoda e o que gosta. Trataram de questões como a necessidade de limpeza e organização do ambiente, conforto no ambiente de estudo. Falaram também da importância da conscientização e de cultivar valores. Como questões que “incomodam” o grupo, estão os problemas com trânsito no Rio Tavares, a poluição sonora que a escola está submetida, entre outros. O grupo colocou também a dificuldade de trabalhar as questões ambientais, comparando o que seria o ideal com o que acontece realmente.

A partir das apresentações do que os grupos colocaram como o que “gostam” e o que “incomoda”, dentro dos eixos temáticos, a idéia era criar um plano de ação com base nos elementos. Ou seja, planejar ações dentro de suas disciplinas, elaborar projetos, atividades, etc. Porém esta etapa não pode ser iniciada por falta de tempo e será realizada individualmente com cada professor.


terça-feira, 21 de dezembro de 2010